segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Palavras de Eugénio ao fim de tarde

As palavras

 
São como um cristal,

as palavras.
 
Algumas, um punhal,

um incêndio.

Outras,

orvalho apenas.

 
Secretas vêm, cheias de memória.

Inseguras navegam:

barcos ou beijos,

as águas estremecem.
 

Desamparadas, inocentes,

leves.

Tecidas são de luz

e são a noite.

E mesmo pálidas

verdes paraísos lembram ainda.


Quem as escuta? Quem

as recolhe, assim,

cruéis, desfeitas,

nas suas conchas puras?

 

Eugénio de Andrade

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