«O congresso dos nossos dias assemelha-se à peregrinação da cristandade medieval, pois permite que os seus participantes se entreguem a todos os prazeres e divertimentos da viagem enquanto, aparentemente, se mostram embrenhados numa austera forma de autovalorização. Para que não restem dúvidas, existem alguns exercícios de penitência que deverão ser realizados - a ocasional apresentação de uma palestra e, certamente, assistir às palestras de outros participantes -, mas, com este pretexto, viaja-se por locais novos e interessantes, conhecem-se pessoas novas e interessantes, e estabelecem-se com elas novas e interessantes relações; trocam-se mexericos e confidências (visto que as nossas já velhas histórias são novas para elas e vice-versa); come-se, bebe-se e passam-se agradáveis serões na companhia delas e, no entanto quando tudo termina, regressa-se a casa com uma exaltada reputação de seriedade intelectual. Os congressistas dos nossos dias têm uma outra vantagem em relação aos peregrinos da Antiguidade, uma vez que as despesas são normalmente pagas, ou pelo menos subsidiadas, pela instituição e que pertencem, seja ela um organismo do Estado, uma firma comercial ou, talvez o mais habitual, uma universidade», David Lodge, in O Mundo é pequeno.
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