quinta-feira, 22 de abril de 2021

Congresso Internacional do medo

Provisoriamente não cantaremos o amor,

que se refugiou mais abaixo nos subterrâneos.

Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,

não cairemos o ódio, porque este não existe,

existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,

o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,

o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,

cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,

cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte.

Depois morreremos de medo

e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.


Carlos Drummond de Andrade


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