Pedro Cabrita Reis tem duas exposições retrospectiva em Lisboa, na Fundação Carmona e Costa e no Museu Colecção Berardo, e aproveito as suas palavras, sobre a multiplicidade do acto criativo, para recordar momentos outros no calor alentejano: «Sabemos que a beleza é a harmonia - é quase um cânone de índole matemática, não apenas uma História das coisas que nos agradam, é uma geometria subjectiva que imporia ao caos do mundo a harmonia que nos terá abandonado na altura em que perdemos o acesso ao Paraíso, no princípio de tudo. Assim, só se pode ser muitas coisas. É-se um homem de família com a nostalgia de viver sozinho. É-se um pai com a nostalgia de nunca ter envelhacido ao ponto de ser pai, É-se um artista que, em cada obra, preferia apagar tudo o que fez para trás e recomeçar sem mácula o que se continua a perseguir e que seria, finalmente, uma obra igual ao mundo e, portanto, o território em que se poderia construir aquilo que se chama verdade.» (Y, Público, de 1 de Julho de 2011) Conheci Cabrita Reis na já longíqua década de 90, em Beja, quando o projecto Galeria dos Escudeiros, dinamizado por Jorge Castanho e fortemente apoiado pelo então presidente de Câmara José Manuel Carreira Marques (na minha opinião, o melhor que passou pela Câmara de Beja), resolveu abordar o espaço desocupado e degradado do Convento de S. Francisco. Cabrita Reis foi o artista convidado para realizar uma instalação (era a palavra nova na altura para outra abordagem às artes e que se olhava com desconfiança)naquele espaço que fora local de frades, de militares e que pela primeira vez teria as suas portas franqueadas livremente a toda a população. Foi uma das virtudes daquele projecto, chamar a atenção para espaços abandonados, abordar novas formas de intervenção artística e descentralizar a cultura. Naquela altura Beja subiu no panorama nacional e por lá passaram, entre outros que cito de memória, Julião Sarmento e Rui Chafes. O projecto morreu e é pena. O Convento é hoje pousada, novamente, com acesso limitado.
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