Quem quer que seja esse pintor que fez
do Amor ave e lhe fingiu asinhas,
só tinha retratado alguma vez,
segundo creio, apenas andorinhas.
Julgou talvez, quadros seus pintando,
e quando à obra a mão já se lhe apresta,
homens e deuses pássaros voando,
tão leves como os tinha em sua festa.
O amor que a meu ser livre é servidão
ave não é, constante tem masmorra:
tem chumbo a segurá-lo ao coração
e firme ficará até que eu morra.
Não tem plumas, não tem o dorso alado.
Pintá-lo assim, que o faça eu é mister,
que a ser pronto, de mim tinha voado
há cinco anos a um lugar qualquer.
Alguns Amores de Pierre Ronsard, em obra de Vasco Graça Moura
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