domingo, 3 de abril de 2011

Os primórdios da nouvelle cuisine

«- De resto, há que reconhecer que o passadio é perfeito - disse o duque, que, ao utilizar esta expressão, julgava mostrar-se ancien regime. - Não conheço casa onde se coma melhor.

- E menos - interrompeu a duquesa.

- É muito saudável e o suficiente para, como se diz, um vulgar campónio como eu - continuou o duque. - Fica-se com alguma fome.

- Ah, se for como cura, então é outra coisa. É claro que é mais higiénico que faustoso. De resto, não é tão bom como isso - acrescentou a senhora de Guermantes, que não gostava muito que conferissem o título de melhor mesa de Paris a outra que não a sua. - Acontece com a minha prima a mesma coisa que com os autores que sofrem de obstipação e que de quinze em quinze anos se limitam a parir uma peça ou um acto ou um soneto. São o que se chama pequenas obras-primas., uns nadas que são umas jóias, numa palavra, a coisa que mais detesto. Em casa de Zenaide a cozinha não é má, mas havíamos de achá-la vulgar se fosse menos parcimoniosa. Há coisas que o chefe dela faz bem, mas há coisas em que falha. Tive lá, como por toda a parte, péssimos jantares, simplesmente fizeram-me menos mal que noutras casas porque, no fundo, o estômago é mais sensível à quantidade que à qualidade».

Marcel Proust, Em busca do Tempo Perdido

Nenhum comentário: