domingo, 7 de setembro de 2014

Alice Munro

"Sentia saudades dos tempos em que era pequena, antes de nos dedicarmos aos perus. Tínhamos vacas e vendíamos o leite às queijarias. Uma quinta de perus nunca é tão agradável como uma vacaria ou uma  quinta onde se criem ovelhas. Percebe-se claramente que as aves estão já a meio caminho de se converterem em carcaças congeladas e comida. Não têm pretensão de uma vida própria, aquele idílio no pasto que as vacas sugerem, ou mesmo os porcos criados no pomar manchado de sombra. Os aviários de perus são edifícios compridos e eficientes - barracões de metal. Não há traves à vista, nem feno, nem cálidos estábulos. Até o cheiro do guano parece mais pungente e nauseabundo que o do estrume de vaca nos currais. Inútil buscar ali rolos de feno ou vedações de madeira ou cânticos de pássaros ou pirliteiros em flor. Os perus são largados num campo comprido, que limpam até não restar nada. nem sequer parecem aves grandes, mais depressa fazem lembrar roupa suja a esvoaçar",  in O progresso do Amor.

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