domingo, 6 de janeiro de 2013

Poemas de Natal IV

Os Santos Reis

A noite é fria. A lua é fria. A aragem corta.
Gelam os poços ...
Plo silêncio fundo
Calaram-se os ganhões, de porta em porta. Cantando, ensamarrados, as Janeiras.

Os campos amortalham-se em geada.
Não sei o que será das sementeiras
Com essa peneirinha arrenegada!

Quem são os três cavalheiros
que fazem sombra no mar?
Quem são, quem é que procuram
de noite e dia a trotar?

São os três reis magos do Oriente,
juntaram-se em romaria.
Andam a ver o Menino,
filho da Virgem Maria

E a noite é só ...
Num ar de maravilha
O círculo da lua amaciou-se.
Entre os piornos a geada brilha
com um fulgor mais doce.

E a terra dorme ...
Sob céus pasmados,
florescem descampados,
a aragem, enternece-a um bafo morno.
Um grande alvor dos longes se apodera.
Toda a paisagem de Janeiro em torno
se alarga, se alumia, em Primavera!

António Sardinha in Natal ... Natais oito séculos de poesia sobre o natal, antologia de Vasco Graça Moura, Millennium/Público

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