terça-feira, 28 de agosto de 2012

A televisão segundo Relvas

É hoje claro que Miguel Relvas conseguiu alcançar o objectivo de fazer esquecer os episódios ligados à sua licenciatura divulgados pela comunicação social lançando um dos cães de fila do governo para alimentar o debate em torno da privatização da RTP e da discussão do serviço público de rádio e televisão. Sou, naturalmente, a favor de um serviço público de rádio e televisão, suportado pelo Orçamento de Estado, sem publicidade, e cuja estrutura se aproxima muito do trabalho desenvolvido pela RTP 2 e pelas Antena 1, 2 e 3. Muito menos do trabalho produzido pela RTP 1 que é em tudo igual ao dos operadores privados. Aliás, o pertinente debate sobre as intenções do governo e o serviço público de comunicação social não nos deve fazer esquecer que nos anos de democracia que vivemos, em especial o primeiro canal televisivo, sempre ficou longe de um qualquer serviço público, de garantia da pluralidade e representatividade do espectro democrático português, tornando-se mera caixa de ressonância dos interesses defendidos por PS, PSD e CDS que entre si têm partilhado os conselhos de administração e direcção de informação, afirmando os seus projectos políticos junto dos portugueses. É também por isso que se percebe o desespero dos apaniguados de Portas e de Seguro, e os desabafos tardios de Mário Soares. O trabalho da RTP 1 é particularmente visível no alinhamento noticioso, no tempo dedicado a cada partido, com o claro benefício daqueles, no cuidado colocado na escolha dos comentadores, com o consequente afastamento de opiniões de certos sectores, particularmente do PCP, bem como o simulacro de democracia criado com programas como o Prós e Contra. A actual discussão não nos deve afastar deste debate, mas como em tudo no país aborda-se a árvore esquecendo a floresta.
Dito isto, reforço a defesa de um serviço público de comunicação social sob a responsabilidade e gestão directa do Estado (o que não quer dizer governo) e estou longe de acreditar que possa ser exercido por um privado que, natural e justamente, tem outros objectivos para o seu investimento que deverá correr por sua conta e risco e não com subvenções do Orçamento de Estado.

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