Para lá da regularidade dos conflitos em solo africano (neste momento mais visíveis na África do Sul e na sempre presente Guiné-Bissau), o Público de hoje noticiava a construção de um monumento alusivo aos cinquenta anos da independência do Senegal, colocando o presidente Abdoulaye Wade a descer no sobre e desce da última página. A banalidade é dizer que África é um continente de grandes contrastes, mas não haverá muitas razões para apoiar gastos públicos de 20 milhões de euros num elemento escultórico, mesmo que seja erguido com o objectivo de simbolizar a capacidade de gestão própria dos senegaleses. O argumento contra do jornal é porque aquele dinheiro é gasto numa altura em que muitos cidadãos daquele país ainda passam fome. Parece-me fraco. Quantos portugueses passavam fome quando foi erguido o Cristo-Rei em Almada? Quantos franceses e norte-americanos sofriam quando a estátua de liberdade atravessou o Atlântico? Quantos morreram nos trabalhos de construção de todos os monumentos que hoje são património da humanidade? Quantos de nós estivemos de acordo com a construção de estádios de futebol hoje vazios e inúteis quando os portugueses passavam dificuldades e o dinheiro poderia ser investido em áreas mais produtivas? Os erros e as visões deturpadas da realidade não são exclusivo dos africanos.
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