O corpo encostado à parede. Dobrado. A face entre as mãos. Pálida. A voz pausada. Fraca. Limpa a parede das instalações sanitárias mais para se segurar do que pela necessidade que estas têm de limpeza.
Algum problema? Está doente?
Não. Estou a pensar o que fazer quando sair do trabalho. Tenho que ir a pé. E ainda hoje não comi nada. Deixei o meu marido em casa, com um tumor, e sem um copo de leite. Não tenho três euros para o autocarro.
Estamos nas Amoreiras. Lisboa. Centro Comercial. 21 horas, hora boa para uma sessão de cinema. Hora má, igual a todas as outras do dia para quem tem de trabalhar, fazer o percurso a pé entre a casa e o trabalho. E sem nada para meter nos estômago.
Casa em Camarate. Concelho de Loures. No percurso definido no Google aconselha o caminho do eixo Norte/Sul. “Escassos” 12 quilómetros. Aquela artéria de ligação da capital não pode ser palmilhada a pé. Problema. A pé, das Amoreiras, o melhor caminho será em direcção à Praça de Espanha, Hospital de Santa Maria, Campo Grande, Avenida do Brasil e, mais uns passos, Camarate. Não serão 12, não sei, mas de barriga vazia e com oito horas de trabalho serão o triplo.
Cinco euros.
Nem sabe a ajuda que me está a dar.
Penso, a vida de quem trabalha pode ser ainda mais difícil de quem não tem emprego. Fome e privações são as mesmas. Mas há que ter corpo para o trabalho. E meios para lá chegar.
Um comentário:
muito bonito sim senhor.
Postar um comentário